Mulheres na Pedra – 3 mulheres, 3 perspetivas de uma indústria tradicionalmente masculina
Neste Dia da Mulher entrevistámos três mulheres que trabalham na indústria das Rochas Ornamentais. Desde a Produção, Gestão e Associação da Indústria. Num setor predominantemente masculino, as mulheres ganham cada vez mais destaque sendo elas parte integrante da tomada de decisão.
Apresentamos hoje diferentes histórias de vida de diferentes mulheres, com o objetivo de inspirar meninas e mulheres seja nesta ou em qualquer outra área.
Célia Marques
Vice-Presidente Executiva
ASSIMAGRA – Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais
Como começou a trabalhar nesta área?
A oportunidade de trabalhar neste setor surgiu por mero acaso e já lá vão 22 anos.
Após concluir a minha licenciatura, fui convidada a integrar um projeto no Instituto Superior Técnico, uma instituição que sempre teve uma ligação muito próxima ao setor dos recursos minerais e à ASSIMAGRA. Pouco tempo depois estava a participar num grande projeto da altura na indústria extrativa e transformadora que era o Acordo Voluntário de Adaptação à Legislação Ambiental para a adoção das melhores práticas de ecogestão nas empresas. Tudo aconteceu com alguma tranquilidade.
Sendo licenciada em engenharia do ambiente, apresentava-se como uma opção verdadeiramente entusiasmante ajudar a construir uma performance mais verde num setor industrial conhecido por gerar fortes impactes no ambiente. Desde então, fui abraçando desafio
atrás de desafio e trabalhando em projetos diferenciadores na Assimagra, não só na área ambiental, mas em diversas outras temáticas, desde o ordenamento e planeamento do território para a gestão mais sustentável do recurso mineral, até às temáticas da qualificação, da inovação e da internacionalização, de onde resultaram vários projetos estruturantes para este setor de atividade.
A posição que ocupo hoje foi uma oportunidade que é resultado de um trabalho dedicado e intenso, mas nunca foi uma ambição.
Ao longo da sua carreira, sentiu algum desafio específico por ser mulher?
Estando num setor maioritariamente de homens, acredito que sendo mulher estamos mais expostas, mas felizmente a maturidade alcançada pela experiência veio rapidamente anular esse constrangimento. No meu caso pessoal, creio que o que tenho vindo a acrescentar passa muito por aquilo que sou e no que acredito. Sou uma pessoa simples, otimista por natureza e prática, mas também sou exigente comigo. Para os que me acompanham, tento transmitir a necessidade de vermos o lado bom de cada situação e de respeitarmos o trabalho do outro.
O mundo, e esta indústria em particular, evolui a uma tal velocidade que os desafios que temos pela frente são imensos e todos os protagonistas deste setor têm algo a acrescentar. Independentemente do género, é o trabalho colaborativo que faz as coisas acontecerem.
Qual é a sua maior influência neste trajeto profissional?
São várias as pessoas que tenho como referência em diferentes áreas e em diversos momentos. Desde pessoas no setor que me ensinaram muito ao longo do meu percurso até pessoas mais influentes e mediáticas por quem tenho admiração pelo trabalho e valores que perseguem. Se tiver de destacar alguém, não posso deixar de afirmar que a maior influência passou de mãe para filha, não por ter um percurso profissional notável ou algo do género, mas por me incutir a simplicidade que podemos aportar à vida e valores essenciais como a responsabilidade, a humildade e a cortesia.
Qual é a mensagem que gostaria de deixar às jovens que pretendem ingressar nesta indústria?
Esta é uma indústria cheia de potencial, com uma necessidade emergente de inovar e de melhorar a sua eficiência e sustentabilidade, quer económica, quer ambiental. É, por isso, uma indústria onde se pode acrescentar valor e onde cada vez mais as mulheres ganham espaço e fazem parte da mudança de paradigma. É uma indústria que vale a pena conhecer e apostar.
Fátima Faria, Acabadora de Pedra Natural
Manuel & Cardoso – Pedras Naturais e Compostos
Como começou a trabalhar nesta área?
Por decisão minha optei por trabalhar na pedra nos acabamentos. Gosto mesmo daquilo que faço, tenho gosto pelos acabamentos, por trabalhar a pedra. Trabalho na Manuel & Cardoso há 17 anos, mas comecei a trabalhar na indústria há cerca de 26 anos.
Ao longo da sua carreira, sentiu algum desafio específico por ser mulher?
Ao longo dos anos trabalhei com algumas mulheres na produção, agora sou a única mulher a trabalhar na fábrica. Não sinto nenhum desafio por ser mulher, até porque desde que haja vontade de trabalhar até pego em cargas maiores tal como um homem. Sinto que seja importante haver mulheres na fábrica, e que sou valorizada pelo meu trabalho e esforço.
Qual é a sua maior influência neste trajeto profissional?
Tenho a dizer que tenho muita gente que me tenta influenciar a sair da indústria por ser por vezes um trabalho pesado. Mas eu gosto muito de trabalhar na pedra, o que me influencia é a arte de trabalhá-la.
Qual é a mensagem que gostaria de deixar às jovens que pretendem ingressar nesta indústria?
Primeiro que estudem e que se formem. E se gostarem de verdade desta indústria e da pedra, que trabalhem com gosto. Que não tenham medo de trabalhar e aprender com todos os que trabalham nisto há muito tempo.
Margarida Sousa
CEO
Tons de Pedra – Mármores e Granitos do Mundo e Dimpomar, Pedra Natural Portuguesa e do Mundo
Como começou a trabalhar nesta área?
Entrei na Dimpomar com 21 anos logo depois da universidade.
Sempre fui boa aluna e estava prestes a acabar o curso de Gestão na Universidade Nova de Lisboa. Lembro-me de sentir que “tudo era possível” e estava na altura de começar a escolher o que queria fazer.
Vivia com os meus pais e jantávamos sempre em família. Contei que estava a ter uma semana diferente na faculdade, com todo um programa para os alunos finalistas, em que várias multinacionais se apresentavam aos alunos… O meu pai – Luís de Sousa – fundou e estava à frente da Dimpomar desde 1980, mas toda a vida nos foi dito, a mim e aos meus irmãos, que podíamos trabalhar no que gostássemos e quiséssemos. No jantar dessa noite não foi diferente, mas fez-lhe sentido dizer-me também que tinha comprado um terreno em Pêro Pinheiro (nós vivíamos em São João do Estoril) e estava a construir um armazém. E que talvez eu gostasse de fazer ali qualquer coisa…
Nem sei se me disse tanta coisa, mas foi mesmo assim que começou.
Eu já tinha trabalhado na empresa assim uma-ou-duas-semanas num-ou-outro-verão, mas de pedra apenas tinha a tradição de quem é filha de engenheiro de minas e se habituou a começar a visita a um museu pelo “dar nome à pedra que está nas suas paredes”, ou seja: não sabia nada de pedra, mas tudo o que vinha desse mundo era BOM, porque vinha do meu pai, que é um homem extraordinário.
Comecei assim. Mas abracei esta área porque experimentei… e adorei!
Ao longo da sua carreira, sentiu algum desafio específico por ser mulher?
Quando comecei era realmente um negócio de homens. Isso era evidente nos empresários e decisores da indústria – aqui em Portugal e em todos os países que visitei para importação – e também evidente nas feiras internacionais, com poucas mulheres em papéis de conhecimento, experiência ou decisão.
Mas nunca mais pensei sobre isso e nunca me senti alvo de nenhum tipo de descrédito pelo facto de ser mulher. Pelo contrário, sempre fui bem recebida em todo o mundo da pedra – pedreiras, fornecedores, parceiros, clientes, associações – e, agora que me fazem pensar nisso, acho que até houve alturas em que a “curiosidade do outro” pelo facto de eu ser mulher deu conversa e fez crescer relações comerciais mais fortes e sinceras.
Qual é a sua maior influência neste trajeto profissional?
Essa é fácil… o meu pai!
Qual é a mensagem que gostaria de deixar às jovens que pretendem ingressar nesta indústria?
A indústria da pedra natural é absolutamente cativante e vocês fazem-nos falta!